Demorou anos. Foi uma lenta prepara
ção, que poderia ter demorado a vida toda. Em meu caso, foi o desemprego em terra estranha, que me for
çou a uma decis
ão radical de como eu deveria conduzir minha vida dali
em diante. A culmina
ção de diversos eventos inesperados em minha vida levou-me a uma op
ção que alterou o meu relacionamento com a sociedade humana. Naquele momento n
ão desesperei. Pensei serenamente no pr
óximo passo a tomar, sem beber, sem brigar com ningu
ém, como se eu estivesse esperando aquela oportunidade para fazer um desvio decisivo em minha rota. Analisei as circunstâncias, que eram favor
áveis. Eu tinha bastante cr
édito financeiro, gra
ças ao fato de pagar as contas em dia
. Dessa forma, consegui manter-me sem problemas desde setembro de
2001 a maio de 2006, apesar de ter de pagar uma hipoteca de quase US$1000 mil mensais, manter um carro, e outras despesas da ordem de US$500. Aproveitei o tempo ajudando a pessoas da vizinhan
ça atrav
és da igreja LDS (os m
órmons), da qual me tornei sacerdote. Tornei-me s
ócio de uma loja de despacho de encomendas, c
ópias e arte computacional. Gastava horas por dia na internet, pesquisando coisas e defendendo o movimento do software de fonte aberta (Linux, OpenOffice, Firefox, Gimp etc.) Dentro desse emaranhado de atividades, tornei-me um
aprendiz de sábio. Aprendi a ser feliz num mundo cheio de contradi
ções. Como meu visto de especialista tinha-se expirado em 2001, aguardava os tr
âmites de meu visto de perman
ência. Em fins de 2005 esse visto me foi negado sem raz
ão. Como n
ão queria morar nos EUA ilegalmente, procurei uma sa
ída honrosa para minha situa
ção. Ela apareceu na forma de um convite a participar de uma empresa a ser fundada em Togo, na
África ocidental. Havia um grupo de togoleses que planejava produzir computadores pessoais e estabelecer uma rede internet em seu pa
ís. F
izemos muitas reuni
ões semanais de planejamento. Como o
último passo, obter o financiamento para dar in
ício à opera
ção, demorava, resolvi visitar o Brasil e ali esperar at
é o momento de partirmos para Togo. Vendi o carro, a hipoteca da casa e vim para o Brasil. Esperei durante um ano, at
é que me notificaram que uma crise energ
ética em Togo impedia nosso projeto. Imaginei ent
ão um pa
ís sem luz
à noite, e procurei uma solu
ção para isso. Descobri na internet um novo produto industrial, o diodo emissor de luz branca, capaz de competir com a ilumina
ção convencional de l
âmpadas incandescentes e fluorescentes. Propus que fabricássemos lanternas e luminárias a DEL em Togo. Mas a China usou de um truque para dominar o mercado. Faziam artefatos com os DELs sobrecarregados; punham quatro pilhas ao invés de duas, para que os DELs durassem apenas dezenas de horas, e não as 100 mil horas de que são capazes. O projeto em Togo não deu certo, pois não se podia competir com os chineses.
Decidi vir para Piedade, no estado de S.Paulo, porque aqui havia uma bambuzeria, pois o bambu é ótimo para fazer luminárias. Conheci o IPD Taipal, uma ONG que se ocupa em implantar a permacultura, e agora estou aqui, feliz e despreocupado, a trabalhar em prol da comunidade, na condição de aprendiz de sábio.
Logo que deixei os EUA, aquele país entrou em profunda crise imobiliária; o império americano sofreu uma queda parecida com o império romano. Conclui-se que sou mesmo um privilegiado, pois consegui livrar-me de uma crise colossal. E sou rico em sabedoria, sem que me invejem, ou tentem se apoderar de minha riqueza. Portanto, estou em paz com o mundo.